sábado, 22 de maio de 2010

Brasil Rural Contemporâneo

No último final de semana tivemos a honra de ter em Porto Alegre a VII Feira Nacional de agricultura Familiar e Reforma Agrária BRASIL RURAL CONTEMPORÂNEO, uma iniciativa do ministério de desenvolvimento agrário. O evento englobava produtos orgânicos, cultura, artesanato, música e gastronomia. Foi uma oportunidade bastante interessante para entrar em contato com alguns produtores de cachaça e licores, apreciar cervejas artesanais e até mesmo participar de uma degustação de vinho com enólogos profissionais.

Dentre as cachaças, a que realmente me chamou a atenção pela qualidade, foi a Weber Haus, da cidade de Ivoti, RS. Cachaças super premiadas em território nacional e no exterior. Não me ative muito em experimentar, os licores da empresa, porém posso falar das cachaças de alambique. Adquiri a cachaça comemorativa de 55 anos de tradição da família "Lote 48". Cinco anos envelhecida em carvalho em um ano em barril de bálsamo. Bastante perfumada e com um sabor complexo. Não é por nada que esta
foi medalha de Prata no concurso Hyatt Cachaça Awards e medalha de Ouro no concurso de Bruxelas. Além dessa, a cachaça prata descansada, me pareceu excelente e esta é a mais premiada da casa. Se parasse para escrever todas as medalhas não teria espaço no blog. O melhor é que a empresa oferece muitas variedades certificadas como orgânicas. Este é o tipo de iniciativa que sempre vou apoiar. Vale dar uma conferida na seleção dos produtos no site. E aí vai minha única crítica. As sugestões de cocktails que aparecem na webpage não correspondem ao valor do insumo oferecido. Acho desnecessário utilizar-se de nomes clássicos para os drinques. Muito mais interessante seria a empresa contratar um mixólogo e oferecer receitas originais, com qualidade e bem elaboradas, ao invés das batidas com leite condensado. Afinal, Manhatan com cachaça de abacaxi, açucar e gelo picado, chega a doer nos ouvidos de um profissional da área.

Outras marcas de cachaça das quais tive a oportunidade de apreciar e que ainda me lembro (o que depois de tanta degustação é muito importante) foram a Velho Alambique de Santa Tereza, RS. A Terra de Ouro de Salinas, MG, A Locomotiva e a mais que especial Barril 39, de Valença, RJ. Até bala de cachaça com gelatina eu provei . Uma hora tenho que passar na Cachaçaria do Mercado para fazer umas aquisições.

Mais uma compra que fiz, foi a de um licor caseiro de amoras silvestres, da marca Fazenda Grande, que se não me engano é de Curitiba. Adocicado, bem denso e com o real sabor da fruta. Meu intuito era de utilizar como um substitutivo ao crème de mure no Bramble. Cocktail que passei a receita em outra postagem. Fiz a experiência e recomendo. Um toque brasileiro e orgânico na mixologia inglesa. Infelizmente, não tenho o contato desse produtor e na garrafa não vem nenhuma identificação. Dessa forma será difícil conseguir outra amostra.

Tive a grata surpresa de fazer parte em uma degustação de vinhos orientada por enólogos feita pela empresa Dal Pizzol, de Bento Gonçalves, RS. Começaram por chardonay corte com riesling, após um sauvignon blanc, seguidos de merlot e cabernet sauvignon. O curso, apesar de básico, foi bem interessante. Como o dito de Lord Byron, que figurava na toalha de papel - O vinho consola os tristes, rejuvenesce os velhos, inspira os jovens e alivia os deprimidos do peso de suas preocupações.

Haviam também as cervejas artesanais, pelas quais tenho um apreço muito especial. As filas estavam enormes, a fórmula de Água, Lúpulo, Malte e Leveduras estava sendo disputada com afinco. Dentre as cervejarias estavam a Coruja, a Shmidtt, a Abadessa, Ralfbeer e a Fronzbeer. Provei a cerveja de kiwi da Ralfbeer, é um tanto quanto instigante, mas demasiadamente adocicada para o meu paladar. Gosto da Coruja, mas como ela se limita a pilsen, geralmente opto pela ale da Shmidtt. Na ocasião, levei uma garrafa de sparkling ale, afirmo que estava deliciosa. A Abadessa, apesar de não te-la desfrutado neste dia, sem dúvida é sensacional.

Andando pela feira me deparei com um cartaz que dizia -SEU CONSUMO MUDA O MUNDO. Entre cachaças, vinhos, licores, cervejas, me veio pensamentos orgânicos. Produto local, pequenos produtores, responsabilidade social e comprometimento ecológico talvez sejam o caminho para mixologia. No Brasil, pela oferta que dispomos, temos a possibilidade de fazer isso acontecer sem muito esforço. Consumo consciente de álcool vai bem mais além de quantos copos você tomou na noite.


segunda-feira, 10 de maio de 2010

Tarde Fria com Cognac

O inverno vem chegando, dias chuvosos e um pouco mais friozinhos já se fazem presentes. Ao menos aqui no sul, onde temos as quatro estações bem definidas. Neste sábado, resolvi fazer um drink para esquentar a tarde. Adoro o inverno e sou fã de bebidas quentes. Talvez por ter vivido alguns dos bons últimos anos na Europa, talvez, e mais provavelmente, por tomar chimarrão desde que me conheço por gente. Bem, mas hoje vou expor um cocktail de conhaque com suco de maçã. Levemente adocicado e muito aromático.

Brandy é a definição para qualquer bebida a base de uva destila de vinho, porém somente aqueles vindos da França, mais exatamente da região de Charente e Charente-Maritime, no oeste do país, podem ser chamados Cognac. Na região de terreno calcário, se encontra fundamentalmente, videiras da variedade Ugni Blanc. Segundo especialistas, essa característica do solo confere os aromas e sabores diferenciados que serão exaltados no produto final.


Há uma denominação para as idades referentes a esta bebida. As mais comuns são as seguintes:


*VS (Very Special), Trois Étoiles (Três Estrelas) ou Compte 2: "el eau de vie" mais jovem, tem dois ou mais anos no barril.


* VSOP (Very Special Old Pale), Reserva ou Compte 4: mínimo de quatro anos de madeira.


* X.O, Napoléon, Hors d'Age, Compte 6: mínimo de seis anos.


Um cognac mais fino, deveria ser bebido assim como ele vem, sem adição de gelo ou refrigerantes. Tradicionalmente, este destilado é servido em um copo ballon, que permite-o agitar levemente em círculos e esquentá-lo na própria mão para que se libere os aromas e se perceba o Bouquet. Contudo, nunca deveria se por fogo na bebida, como era de costume antigamente. Claro que para a realização da maioria dos cocktails se opta por cognacs mais jovens. Deixando os envelhecidos e muito mais caros para a degustação pura, como descrita acima.




Existem muitas versões para cidra quente, com rum ou com conhaque, com cardamomo, curry, canela, cravo, etc. Geralmente todas são denominadas Spike Apple Cider. O cocktail que apresento, tampouco deveria ter esse nome, pois não me utilizo de cidra. Mesmo que o gosto final lembre bastante. Tendo em vista que tirei a recita de um livro do mixologista Simon Difford, resolvi respeitar o nome que ele sugeriu. Independente de como é chamada, esta bebida é deliciosa e cumpre sua função numa tarde de outono ou inverno. Servir junto maçãs desidratadas e biscoitos de canela dão um toque especial.

Spike Apple Cider


Ingredientes


3 Cravos
2 medidas de cognac
3 medidas de Suco de maçã
Creme de leite no topo
Canela em pó


modo de fazer
Sugiro o método mais prático para se fazer esse drink. Na base do copo shaker, moa os cravos, adicione o cognac, o suco de maçã e açucar, caso o último ingrediente não seja adocicado o bastante. Bata sem gelo, técnica do dry shake e coe no copo a ser servido, preferencialmente uma caneca de vidro, a prova de calor, transparente. Sirva o creme de leite por cima, formando uma camada cremosa, ponha a canela em pó por cima. E por fim, o esquente no micro ondas. (Tive que optar por uma taça, pois não dispunha de nenhuma caneca transparente e gostaria de realçar o creme de leite no topo do drink)


dicas
Para que o creme de leite ficasse mais suave resolvi batê-lo com uma pitada de açúcar. Decorei com quatro cravos.



















*http://www.vinhosnet.com.br

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Gin e Muita História pra Contar

Na última postagem escrevi sobre um cocktail a base de gin, recomendando o Bombay Sapphire na receita. Tampouco me atentei que na foto principal do BLOG apareço com uma garrafa de Tanqueray na mão. Por isso, resolvi escrever sobre o a história e os diferentes tipos de gin. E olha que dá bastante o que falar...
O primeiro relato que se tem talvez seja de 1622, de uma publicação em Amsterdam, a qual menciona a receita de uma bebida alcoólica com sabor de juniper, que para nós seria o zimbro. O desenvolvimento dos processos de destilação na Holanda contribuíram muito para o sucesso desse drinque, depois chamado jenever. A partir daí, após trinta anos de guerras, os soldados Ingleses, que na época lutavam nos Países Baixos, tomaram gosto pela bebida e levaram-o para casa, porém sob o nome de Gin.
Em 1688, o Holandês William III of Orange assume o trono inglês em razão da morte de seu sogro, James II. O novo rei, que era protestante, baniu todo os produtos importados de países católicos, dentre eles a França, e encorajou a produção local de gin. Além do mais, aumentou os impostos sobre a cerveja. Dessa forma, o o gin torna-se a bebida mais barata disponível. Como reflexo, o consumo excessivo tornou-se um problema nacional. E essa situação perdurou por muitas décadas.
Talvez por isso, de todos os seis Spirits essenciais, o gin é o único com uma reputação não muito boa. Em países como a Inglaterra e os Estados Unidos, ele esteve associado com a pobreza, com a perdição de mães, com garotas tentando abortos e como o refúgio daqueles sem esperança e com as almas perdidas. Ainda hoje, algumas pessoas perduram o mito de estar relacionado à tristeza e o tem como o mais depressivo de todos os destilados. Acredito que de certa forma, a cachaça no Brasil passou por um processo parecido, tendo dificuldade de aceitação e respeito por parte da população.
Se no passado o gin teve toda essa má fama, hoje em dia é, na verdade, tido como uma bebida rica em sabores e aromas, fundamental na coquetelaria, sendo a base de uma gama imensa de cocktails. Dentre as suas variações há o Gin Inglês, dividido entre London dry e o Plymouth gin. O primeiro é o mais comum de todos. Os nomes mais conhecidos são Gordons e Beeffeater. E Bombay Sapphire e Tanqueray como exemplos de especialidades dentro do gênero. Há outro gin que me chama a atenção, de produção mais reduzida, contudo, ganhando cada vez mais espaço no mercado e prestígio entre os apreciadores, que é, o Escocês, Hendrix Gin, com infusões de botânicos diferenciados como rosas e pepino. Enquanto eu trabalhava na Royal Caribbean, este era o eleito para o cucumber martini, o martini de pepino. No próprio site da empresa eles sugerem o clássico gin martini com uma rodela de pepino ao invés da tradicional azeitona.
É de se experimentar...
A outra variação da versão inglesa é o Plymouth Gin, que pela denominação tem de ser produzido na região. Este é um pouco mais seco que a outra variação e com um bouquet mais sutil. Entretanto, sua produção é bem limitada e são raros os bares que o oferecem no Brasil. Já a versão holandesa, o Dutch Genever, é bem diferente dos Ingleses, é mais maltado, com sabor predominante do grão que é produzido. Basicamente, sendo dividido em oude envelhecido ou jonge jovem. O envelhecido lembra mais o tipo inglês tendo um sabor mais rústico.
Apesar da contribuição essencial da frutinha escura, o zimbro, para os aromas perfumados e para o gosto do destilado, há uma serie de outros ingredientes. Contudo, a receita varia de acordo com as diferentes destilarias. Mais comum são angelica, raíz de lírio, alcaçuz, cascas secas de citros, sementes de coentro e cominho. Apesar disso, o gin, é uma bebida simples, produzida de centeio e cevada, mesmo que para o Dutch Genever e para o American Gin, o milho seja geralmente usado. No estilo Inglês, ele é sucessivamente destilado até os alcoóis mais superficiais sejam retirados. Depois do processo de aromatização, que é feito pela maceração das ervas secas, frutas e temperos no álcool ou escorrendo a bebida por estes, o produto final é imediatamente engarrafado.
Talvez a forma mais comum de se servir o gin seja com água tônica, de preferência com muito gelo e uma fatia de limão. No entanto, os gins tidos como especialidades podem ser servidos puros, gelados, em pequenas doses, em copos altos, com haste e estreitos. Apesar de ser comum a utilização de copos de champanhe na holanda.
O gin, pela sua textura oleosa, se harmoniza bem com certos pratos de peixe como arenque com cebolas picadas. Outra dica são tortinhas de chicória recheadas com peixe eglefim “haddock” defumado marinado.
Para terminar vou deixar a receita de um cocktail aparentemente bem estranho, citado em um dos livros do mixólogo Simon Difford, o Spicy Veggy.

Spicy Veggy

Ingredientes
60 ml de Gin
24 Sementes de coentro
60 ml de suco de cenoura
6 ml de gomme (2 medidas de açucar par uma de água)
uma pitada de pimenta preta
uma pitada de sal

Modo de preparo
Moer o coentro na base da coqueteleira, adicionar os outros ingredientes e gelo bater na coqueteleira por 15 segundos e coar servindo em um copo de martini. Como guarnição pode-se usar uma fatia de cenoura. Boa Sorte!

sábado, 1 de maio de 2010

Bramble

Gostaria de dividir com todos a receita de um dos meus cocktails favoritos. O Bramble. Nome em inglês para a planta tipo espinheiro da amora silvestre e outras espécies parecidas. Bastante popular na inglaterra, é um drink a base de gin, fácil de preparar e com ingredientes acessíveis. Ácido pelo limão siciliano e adociado por licor de blackberry (amora silvestre) crème de mure ou Chambord. Elegante, de boa apresentação e que, machismos à parte, geralmente agrada ao paladar feminino. Ao menos, sempre foi bem recebido quando oferecido por mim.


A primeira vez que tive a oportunidade de apreciá-lo foi, logo que cheguei em Londres, em um bar chamado Road House. Este bar fica localizado em Covent Garden, uma das áreas turísticas da cidade. O ambiente é conhecido por realizar uma das mais importantes competições de flair* na Europa. Todos os bartenders que lá trabalham são exímios malabaristas, muitos com diversos títulos. Podem ter certeza, irão ver a garrafa girar muitas vezes antes de serem servidos. A casa segue uma decoração estilo rockabilly anos 50, 60, com uma moto, a qual creio ser uma Harley Davidson, acima das prateleiras do bar central, dividindo espaço com os licores. Não diria que é a minha preferência em concepção de casa noturna ou restaurante, mas funciona bem e é divertido uma vez que outra. Além dos dias de competição serem bem disputados e atrativos.


Se fôssemos seguir a receita original do Bramble, teríamos que usar Plymouth Gin, segundo alguns autores. Para que um gin receba esta denominação, este tem de ser produzido na Região de mesmo nome, no sul da Inglaterra. Qualquer outro English Gin produzido no mundo, leva o nome de London Gin. Abro parênteses para justificar que há um terceiro tipo, porém bem distinto dos demais, que é o Dutch Genever. Esta é a versão holandesa para a bebida. históricamente, o gin é holandês, contudo, se populariza na Inglaterra. Não vejo, neste caso, a necessidade de se optar pelo ingrediente original, que é raríssimo nas prateleiras dos bares no Brasil. Acredito que um bom gin seja o ideal. E com certeza Bombay Sapphire é uma das escolhas. Vale dar uma olhada no site, tanto nos drinks, bem como na área de design glasses.



Bramble


ingredientes:
50 ml de gin
Suco de meio limão siciliano
Um dash de gomme (duas medidas de açúcar para uma de água)
12,5 ml Crème de Mure (podendo ser substituído por Chambord)


modo de preparo:
Servir em um copo tipo rock glass o gin, o limão e o gomme em gelo moído. Mexer com a colher de bar até gelar, 10s. Adicionar mais gelo e servir o licor por cima, de forma que venha escorrendo para dar o efeito esperado. Como guarnição uma fatia de limão siciliano, 1 ou 2 raspberries (framboesa) e 1 ou 2 blackberries (amora silvestre).


Divirtam-se!






*flair = movimentos e malabarismos com os diversos materiais de bar. Do shaker e garrafa, ao guardanapo, gelo, frutas e canudo.